ÍSHVARA PRANIDHANA





De volta ao meu DharmaLuna, o meu oceano primordial (quase) privado, começarei por me debruçar sobre o conceito de "auto-entrega". Pareceu-me ser o mais adequado. Afinal de contas, acredito profundamente que o meu dharma (percurso ético) se baseia, acima de tudo, neste processo. 

Gostaria de deixar aqui uma proposta. Não é um desafio, é apenas uma sugestão. Hoje, só por hoje, fechem os olhos e mergulhem do alto dessa linda cascata que guardam bem no fundo da vossa alma. 

Deixo-vos aqora com alguns excertos de um texto de Simão Monteiro
Fonte: http://www.yoga.pro.br/artigos/770/3046/Ishvara-pranidhana-a-entrega-a-vida

"Íshvara pranidhana aparece no Yoga Sutra de Patañjali como sendo um dos cinco niyamas que, por sua vez, constituem um dos oitos angas (partes) do Ashtanga Yoga codificado pelo sábio. Esses oito angas são: yama, niyama, ásana, pranayama, pratyahara, dharana, dhyana e samadhi. Os cinco yamas e cinco niyamas são a ética do Yoga, os pilares onde assenta a prática e a vida do yogi. Traduzimos niyama como prescrição, são os elementos de auto controle que dizem respeito à vida interior do yogi e à forma como se relaciona e harmoniza com a vida em geral e com a verdade transcendente.  

'A supressão [da identificação com os vrittis consegue-se através da] prática constante e do desapego.' Yoga Sútra, I-12 [2].
'[O samádhi pode também obter-se] pela entrega a Íshvara.' YS, I-23   
Patañjali começa por nos ensinar que através de abhyása (prática constante) e de vairágya (desapego) se consegue o estado de Yoga ousamádhi (segundo o comentador Vyása: Yoga é samádhi), e que essesamádhi está próximo para aqueles que o anseiam muito. Em caso de insucesso nessas duas práticas ou falta de motivação, ele apresenta outro meio, Íshvara pranidhana , para chegar ao mesmo fim. 
Mais à frente diz-nos: 'esforço sobre si próprio, auto-estudo e entrega aÍshvara constituem o Kriyá Yoga.' YS II-1
Patañjali apresenta-nos outra prática para chegar ao mesmo fim, o kriyáyoga, e novamente Íshvara pranidhana  faz parte das técnicas. 
Finalmente, Patañjali propõe ainda o Ashtanga Yoga, sistema pelo qual ficou conhecido, para destruir aquilo que nos condiciona e nos faz sofrer e assim levar-nos à libertação. Como já referi antes, também aqui Íshvara pranidhana  aparece, fazendo parte dos niyamas
É de realçar o facto de Íshvara pranidhana , a 'simples' entrega à vida, aparecer nas três práticas apresentadas por Patañjali como meio para chegar ao Yoga, apesar da dedicação e esforço que os yogis empregavam ao utilizar a grande variedade de técnicas ao seu dispor para se libertarem.  
Íshvara pranidhana  implica também shraddha (confiança). Confiar que tudo está bem, confiar no processo de existência para podermos nos entregar sem medos nem receios. Confiar também no professor de Yoga que escolhemos para nos ensinar e nos próprios ensinamentos milenares que nos são passados.  
Tudo isto muda a nossa obsessão pelo 'eu', pelo ego que se assume tantas vezes como o responsável pelas acções e cobra seu desfrute. Praticar Íshvara pranidhana  torna-nos mais humildes, esvazia-nos daquilo que não interessa e nos condiciona deixando espaço para a serenidade e paz. "

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